1 de fevereiro de 2008

A Origem dos Costumes Natalícios

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O Natal celebra o nascimento de Jesus. É um momento de celebração, de festa, de alegria, de luz e de solidariedade. Mas muitos antes, outras civilizações faziam festas especiais nesta altura do ano, quase todos cultos solares. A celebração desta data, tal como a conhecemos hoje, é por isso um misto de manifestações religiosas e pagãs, que foram sobrevivendo ao longo do tempo. Mas é universal, mesmo para os que não partilham do cristianismo. Tentamos encontrar algumas razões para que assim seja nas brumas da História, desfolhando algumas páginas do Tempo, que parecem justificar esta festa e todas as tradições natalícias que estão agregadas a esta celebração.

A celebração do Natal no mundo assume diferentes formas e manifestações diversas, resultado também da evolução de costumes e rituais com muitos milhares de anos. Esta realidade dos nossos tempos deixa perceber que houve uma fusão entre práticas cristãs, depois da morte de Cristo, e de tradições pagãs, que vêm de muito antes. Antes da determinação de 25 de Dezembro como dia de nascimento de Cristo e do Natal cristão, o que aconteceu apenas no ano 350 dC pelo Bispo de Roma Julius I, vários povos em todo o mundo celebravam nesta altura do final do ano festas especiais. Foi assim em quase todas as grandes civilizações ao longo desses tempos - na Mesopotâmia, na Babilónia, na Escandinávia, no Antigo Egipto, na Grécia da Antiguidade e no Império Romano. Por isso, também tudo o que está associado ao Natal - luz, cânticos, trocas de presentes, enfeite das árvores e das casas, etc. - tem um cariz universal, independentemente de cada um dos povos partilhar ou não da religião católica.



Pode dizer-se que os romanos tinham uma manifestação muito parecida com aquilo que viria a tornar-se o Natal. Os romanos festejavam e celebravam o seu deus Saturno. O seu festival era chamado "Saturnália" tendo início em meados de Dezembro e terminando no dia 1 de Janeiro. A celebração incluía banquetes, desfiles de máscaras nas ruas ao som de gritos "Jo Saturnalia", a visita de amigos ou familiares e a troca de presentes de "boa sorte" a que chamavam "Strenae". Adornavam os átrios com grinaldas de louro e árvores verdes iluminadas com velas. Também entre os romanos, os amos e os escravos, havia uma troca das suas posições sociais, sendo uma altura do ano em que a boa disposição e a alegria esbatia as naturais diferenças entre as diferentes classes da população. A "Jo Saturnalia" era uma celebração alegre e festiva para os romanos, mas os cristãos viam-na como uma abominação em honra de um deus pagão. Os primeiros cristãos queriam preservar a celebração do nascimento do seu Cristo como uma data solene e religiosa, não uma festa alegre como a Saturnalia pagã. Mas não restam dúvidas que existem claras parecenças nestas formas de celebração. Aliás, porque acabaram por misturar-se nos mesmos locais e no mesmo tempo. Este convívio não era, por isso, uma coisa fácil.
Na exacta medida em que se propagava a cristandade, os responsáveis religiosos estavam preocupados com as celebrações de costumes pagãos, especialmente da Saturnalia, promovidas por muitos dos seus convertidos. A princípio, a Igreja proibiu tais celebrações. Porém, como tal proibição se revelou insuficiente, decidiram que esse evento seria "transformado" na celebração do nascimento do filho do Deus cristão, o Natal.

A tese de que o natal cristão foi desenvolvido para competir com as festividades pagãs de Dezembro é defendida por muitos historiadores que se dedicaram ao estudo desta matéria. O dia 25 de Dezembro era sagrado para os romanos mas também para os Persas, cuja religião era uma das maiores rivais do cristianismo na época. A igreja cristã acabou por conseguir apropriar-se da alegria, dos presentes e das luzes da Saturnalia, transformando o dia 25 de Dezembro como a data mais importante da sua religião, acabando com o impacto que este mesmo dia tinha nas culturas acima referidas.
Esta tese pode ser suportada por outro facto histórico. Na verdade, a data do nascimento de Cristo nunca foi estabelecida com rigor. Pensa-se que é celebrado desde o ano 98 dC. Em 137 dC, o Bispo de Roma ordenou que o nascimento de Cristo fosse celebrado solenemente. Em 350 dC, outro Bispo de Roma, Julius I, determinou que no dia 25 de Dezembro devia ser observada a celebração do natal cristão, ou seja, apenas três centenas e meio de anos depois, este dia foi adoptado pela igreja cristã como a celebração do nascimento de Cristo, e o Natal, tal como o conhecemos hoje.

Com a queda do Império Romano e com a "explosão" da igreja cristã em todo o mundo, o "Natal dos pagãos" foi definitivamente abandonado, substituído pela festa de cariz católico como a conhecemos hoje. Todo o período da Idade Média, onde a religião se misturava com crenças e bruxarias, os valores e as datas do Cristianismo eram defendidos com muita força, pois para além do facto de a Igreja Católica se ter tornado muito forte em termos políticos e sociais, era transversal a todas as civilizações. E o Natal passou a caminhar para ser a festa da família, onde pelo menos uma vez por ano, as pessoas abandonavam as suas ambições e o seu espírito guerreiro, para se entregarem a acções de solidariedade e de preocupação com o seu semelhante. Os mais poderosos, que passavam o resto do ano a "explorar" os povos mais humildes, enchiam-se de bondade e distribuíam comida e roupa às populações mais pobres.
Era também nesta altura que os cavaleiros regressavam às suas terras, havendo uma trégua nas sangrentas lutas pelo território que caracterizaram esta altura da História Universal, para festejar junto dos seus conterrâneos o Natal. A sua data, que coincide com o período mais frio no hemisfério norte, onde se concentravam as civilizações mais evoluídas (leia-se mais ricas e mais poderosas), também ajudava a que este período fosse passado em suas casas e com os seus familiares.

Mas é no início do século XX que a Festa do Natal ganha os contornos que hoje conhecemos. Com a viragem das sociedades para uma política de melhor redistribuição da riqueza, resultado das oportunidades de enriquecimento que a produção massiva criou às populações, criou-se as bases de uma sociedade de consumo, de ideologia capitalista, que, na verdade, tornou o Natal numa festa popular. O acto de dar presentes aos familiares e amigos tornou-se numa enorme "febre" de consumo, que projectou a data e deu corpo a uma indústria que todos os anos se prepara cuidadosamente para esta altura do ano.

Muitos dos símbolos do Natal que hoje aceitamos em nossas casas foram criados já no século XX por esta enorme "máquina" de consumo. Um dos mais emblemáticos é a figura do Pai Natal tal como o conhecemos hoje, um velho simpático de longas barbas brancas, todo vestido de vermelho, que vive na Lapónia com os seus duendes a fabricarem brinquedos durante todo o ano e que, depois, no seu trenó e com as suas renas, os distribui às crianças de todo o mundo. Uma figura criada pelo departamento de marketing da Coca-Cola, que redesenhou a figura física que até então se atribuía ao Pai Natal, mas mais importante, difundiu-a pelo mundo inteiro. Mais recentemente, a sua maior concorrente, através da marca 7 UP, criou a mais radical das renas, o conhecido Rudolph.
Tradições Natalícias
Muitas das tradições cristãs observadas na quadra natalícia, têm como origem cultos antigos das religiões solares. O Sol era venerado como um Deus supremo. Fonte da vida e da fertilidade, o astro-rei foi durante milénios o centro de muitos politeísmos. O simbolismo da Missa do Galo traz até aos nossos dias o testemunho de outras Eras. A importância da missa do galo na tradição cristã é incontornável e a palavra inglesa para natal, "christmas", não é mais do que o acrónimo das palavras "christ" e "mass", ou seja, literalmente a "missa de Cristo".

A missa celebrada à meia-noite de dia 24 de Dezembro é, na verdade, a missa que celebra o nascimento de Cristo. Parece ter sido celebrada pela primeira vez no ano 143 da nossa era por São Telésforo, que determinou que à meia-noite, em todas as igrejas, os cristãos comemorassem a chegada de Cristo ao mundo. Na simbologia cristã, o galo significa o anúncio da nova luz. A Missa do Galo, também designada por Missa da Meia-Noite, é a missa da Luz.

A celebração é nitidamente inspirada nos antigos cultos solares, que aquando do solstício de Inverno celebravam o regresso ou a cura do Sol. O cristianismo substituiu tais celebrações pagãs pela festa cristã do nascimento de Cristo, o verdadeiro Deus sol que vence as trevas. A celebração foi instituída como norma no séc. VI pelos católicos romanos, havendo porém fontes que apontam ter sido S. Francisco de Assis (séc. XIII) o responsável por esta instituição.

A designação Missa do Galo é utilizada nos países latinos (nos restantes a expressão é Missa da Meia-Noite), e parece ter sido adoptada em resultado da lenda que reza que a única vez que um galo cantou à meia-noite foi na noite que nasceu Jesus, tendo sido o galo o primeiro animal a ver o Messias, tendo entoado o seu cântico para anunciar a boa nova. O nome original parece ter sido "Missa da Vigília do Canto do Galo", porque o galo anuncia que as trevas da noite estão a dar lugar à luz do dia, "como o Sol Jesus, com o seu nascimento, traz a luz verdadeira para a humanidade".

Na mitologia grega, o galo está associado a Hélios o deus do Sol, que considerava este animal como sagrado. Também Apolo, Atenas e Hércules referenciavam o galo como símbolo sagrado do Sol e Perséfone como a renascente primavera. Na região africana onde hoje se localiza a Nigéria, a mitologia Yoruba tinha o galo como um colaborador do deus Olorum, também designado por Olodumare, o deus criador do mundo, da luz e da vida. Conta essa mitologia africana que Olorum, o Supremo Ser, envia o deus menor Obatala, (também conhecido por Orixanla) para criar a Terra, onde apenas existia água e caos. Obatala leva consigo um galo, algum ferro e uma semente de palmeira. Chegado à Terra, Obatala espalhou o ferro sobre o planeta e colocou o galo sobre o metal. Este com as suas garras esgravatou o ferro e criou o solo onde Obatala plantou a semente de palmeira, a partir da qual foi criada a vegetação do planeta. Esta mitologia, sendo muito antiga, ainda hoje é seguida, especialmente no Brasil pela religião Umbanda e nos rituais do Camdomblé.

Estas tradições enquadram-se perfeitamente na mensagem que os cristãos pretendem para a sua quadra natalícia: afinal foi Jesus que com o seu nascimento trouxe a luz e Jesus que protege os fiéis de demónios e tentações. Os cultos solares, esses, desapareceram, permanecendo, no entanto, a simbologia. Que se estendeu até aos nossos dias, hoje a Missa do Galo celebra o nascimento de Cristo e para os cristãos é também o momento de receberem a luz que os iluminará por mais um ano. No centro da Europa a designação Missa do Galo acabou por ser substituída por Missa de Cristo, embora entre as populações ainda seja a primeira designação a mais popular.
Os Enfeites da Árvore de Natal

Segundo uma antiga tradição alemã, diz-se que vem do tempo de Lutero, a decoração de uma árvore de natal deve incluir 12 objectos para garantir a felicidade de um lar:

• Casa (Protecção)
• Coelho (Esperança)
• Chávena (Hospitalidade)
• Pássaro (Alegria)
• Rosa (Ternura)
• Cesto de frutas (Generosidade)
• Peixe (Bênção de Cristo)
• Pinha (Fartura)
• Pai Natal (Bondade)
• Cesto de flores (Bons Desejos)
• Coração (Amor Verdadeiro)

Luz e Natureza
É da combinação destes dois factores que nasceu o culto da Árvore de Natal. Muito antes do advento do Cristianismo, as plantas e as árvores que permaneciam verdes todo o ano possuíam um significado particularmente importante para as populações, especialmente na estação do Inverno. Nessa altura, em diversos países as pessoas colocavam ramos dessas plantas (que por serem verdes todo o ano se designam em inglês por "ever-green") sobre as suas portas e janelas.

Acreditavam que tais enfeites serviam para afastar bruxas, fantasmas, espíritos maléficos e até enfermidades.

No hemisfério do norte, o dia mais curto e a noite mais longa têm lugar no dia 21 de Dezembro, o chamado solstício de Inverno. Muitas das culturas antigas adoravam o Sol como um deus, e acreditavam que a chegada do Inverno significava que o Sol se encontrava doente e enfraquecido. Celebravam o solstício, pois atribuíam-lhe o significado de que, a partir desse dia, o Sol começava a ficar melhor da enfermidade que havia provocado o aumento da duração das noites e o encurtamento dos dias (e que portanto o havia enfraquecido). Os ramos verdes relembravam que todas as plantas floresceriam de novo, quando o Sol estivesse plenamente restabelecido e o Verão regressasse.

A tradição cristã da árvore de natal como a conhecemos hoje terá tido o seu início na Alemanha, no séc. XVI. Os devotos começaram a levar árvores decoradas para as suas casas, sendo certo que alguns construíam pirâmides de madeira que depois decoravam com ramos verdes e velas, se a madeira fosse escassa. Acredita-se que o primeiro a acrescentar velas acesas à árvore de natal tenha sido Martinho Lutero, o protestante reformador alemão. Diz-se que, uma noite, Martinho estava a preparar o sermão e, tendo ficado tão impressionado com o espectáculo dado pelo brilho das estrelas reflectido nos ramos verdes da floresta, pretendeu recriá-lo para a sua família, tendo colocado uma árvore em sua casa, decorada com velas acesas.

A tradição da árvore de natal foi-se expan­dindo e sedimentando. Nos Estados Unidos, em pleno séc. XIX, a árvore era ainda olhada de sos­laio por muitos puritanos. Apesar de existirem comunidades de origem germânica que já a usavam desde 1747, a verdade é que, em 1840, essa tradição era ainda considerada pagã e não aceite pela grande maioria dos cidadãos ameri­canos. O famoso William Cromwell pregou con­tra essas "tradições pagãs", referindo-se aos cân­ticos de natal, às árvores decoradas ou a qual­quer expressão de alegria que dessacralizasse esse evento. Até ao século. XIX existiam locais nos Estados Unidos onde qualquer outro tipo de celebração no dia 25 de Dezembro que não fosse uma missa constituía um crime. O influxo de emigrantes alemães e irlandeses na segunda metade do século, colocou um ponto final neste puritanismo e a árvore de natal entrou definitivamente nos lares americanos.

A árvore de natal também tardou a chegar a Portugal. Nos anos 50 do séc. XX, ainda era olhada com desconfiança e preterida em favor do presépio, tradição que já havia sido adoptada pelos portugueses há muito tempo. Hoje em dia, o normal é fazer-se o presépio ao lado da árvore de natal, mas é seguro dizer que, apesar de ter chegado tardiamente a terras lusas, a árvore de natal suplantou o presépio.

Em Inglaterra, no ano de 1846, a Rainha Vitória e o Príncipe Alberto (de origem alemã) eram representados no "Illustrated London News" com os seus filhos em volta de uma árvore de natal. Este facto colocou a árvore na moda britânica e mesmo na norte-americana. Hoje, estima-se que sejam produzidas entre 36 a 38 milhões de árvores de natal em todo o mundo. Os pinheiros, ou os abetos, foram os escolhidos devido às suas formas triangulares, numa referência óbvia à santíssima trindade cristã.



Os ornamentos da árvore de natal também foram evoluindo. Os europeus (especialmente os alemães) decoravam as suas árvores com maçãs, nozes e biscoitos de maçapão, os americanos rapidamente juntaram as pipocas coloridas. O advento da electricidade permitiu ter árvores iluminadas durante dias. Foram assistentes do próprio Thomas Edison (inventor da lâmpada incandescente) aqueles que tiveram a ideia de fabricar pequenas lâmpadas coloridas para decorar as árvores de natal. Começou a notar-se que, ao passo que os europeus usavam árvores pequenas, os americanos preferiam árvores que chegassem ao tecto.

A tradição passou das casas para as ruas e é hoje comum a existência de árvores enormes nas praças de diversas cidades. Um exemplo emblemático é a gigantesca árvore de natal na Rockfeller Plaza, em Nova Iorque, que ali foi colocada pela primeira vez em 1931, em plena depressão, e que muitos dizem ter ajudado a elevar o espírito dos americanos nesse conturbado período. Em Portugal está já instalada a maior árvore de Natal da Europa, desta vez na cidade da Porto. A maior do mundo continua a ser aquela que é construída na cidade brasileira do Rio de Janeiro.

Os Problemas do Calendário
Até aos dias de Júlio César, o calendário romano era lunar. Por diversas razões que extravasam os limites deste artigo, tal sistema era muito impreciso. Júlio César, a conselho de alguns dos seus astrónomos, instituiu um calendário solar. Decretou-se que o ano seria dividido em doze meses e consistia em 365 dias e um quarto. O mês de "Quirinus" foi rebaptizado "Júlio" (Julho) para celebrar a reforma do calendário instituída por Júlio César.

Infelizmente, e não obstante a introdução dos anos bissextos, o calendário juliano sobrestimou a duração do ano em onze minutos e quinze segundos, ou seja, um dia em cada 128 anos de erro, facto que provocou que, no século XVI o calendário Juliano tivesse dez dias de erro.

Em 1582, o Papa Gregório XIII implementou nova reforma do calendário, tendo instituído o calendário Gregoriano (e que ainda hoje usamos).

Nessa reforma, os 10 dias de excesso no calendário Juliano foram eliminados (e daí nasceu a expressão "annus horribilis", pois aparentemente esse ano foi mais curto do que os restantes).

Tratando-se de uma reforma promovida pelo Papa de Roma, e portanto pela Igreja Católica, o calendário Juliano continuou em uso na Europa protestante e ortodoxa. Portugal foi um dos primeiros países a aderir ao novo calendário, mas só no século XX o calendário gregoriano foi adoptado por alguns países, designadamente por países onde o culto dominante é o cristianismo ortodoxo. Por este facto, a tradição ortodoxa ainda hoje celebra o dia de nascimento de Cristo a 6 de Janeiro. Os espanhóis, por exemplo, ainda hoje dão especial relevo ao dia 6 de Janeiro na quadra natalícia, o Dia de Reis, mercê do seu contacto próximo com o mundo ortodoxo.

Yuletide Viking
Na Europa da antiguidade, os povos acreditavam em espíritos maléficos, bruxas, fantasmas e monstros. À medida que o solstício de Inverno se aproximava com as suas longas e gélidas noites e dias pequenos, muitas pessoas receavam que o Sol não regressasse e muitos rituais e festejos eram celebrados para assinalar o regresso do Sol.

Na Escandinávia, durante os meses de Inverno, o Sol desaparece por diversos dias. Ao fim de trinta e cinco dias de trevas, eram enviados batedores para as montanhas para procurar o regresso do Sol. Quando os primeiros raios eram avistados, os batedores regressavam com a boa nova. Um grande festival tinha então lugar, chamavam-lhe o "Yuletide" (ainda hoje a expressão yule-tide significa, em inglês, "época de natal") e um festim era servido à volta de um fogo onde ardia o tronco de natal, tradição ainda hoje seguida em muitos lugares. Fogueiras de grandes dimensões eram acesas para celebrar o regresso do Sol. Em alguns lugares, as pessoas atavam maçãs a ramos de árvores para relembrar o regresso da Primavera e do Verão. As maçãs nas árvores ainda hoje são usadas como ornamento da árvore de natal, na maioria dos países do Norte da Europa.

Zagmuk na Mesopotâmia
Se associarmos os rituais da época natalícia - luz, os cânticos, as trocas de presentes, etc. - com outras manifestações ao longo da História da Humanidade, podemos dizer que há 4.000 anos, muito antes do início do calendário cristão, a celebração mesopotâmica do Ano Novo tinha alguma coisa a ver com o Natal. Os mesopotâmicos adoravam vários deuses, entre muitos outros, o deus supremo, Marduk. Todos os anos com a chegada do Inverno acreditavam que Marduk entrava em batalha com os monstros do caos. Para auxiliar Marduk na sua luta, os mesopotâmicos organizavam festivais de Ano Novo. Chamavam-lhes "Zagmuk", o festival de Ano Novo, que durava doze dias.

O rei mesopotâmico regressava ao templo de Marduk e jurava-lhe fidelidade. A tradição mandava que o rei morresse no fim do ano e se juntasse a Marduk para lutar a seu lado. Para poupar a vida ao seu rei, os mesopotâmicos criaram a ideia do rei de fantasia. Um criminoso era escolhido para tomar o lugar do rei, era vestido com trajes reais, naquilo que muitos consideram ser a mais remota manifestação das máscaras de Carnaval. Durante as festividades, o rei de fantasia merecia todas as benesses e mordomias do rei verdadeiro (à excepção de poder comutar a sua pena, provavelmente) e, no final da celebração, era despojado dos trajes reais e executado, poupando assim a vida do rei.

Os persas e os babilónicos celebravam um festival similar denominado "Sacaea". Parte das festividades incluía a troca de papéis sociais. Desta feita, os escravos tomavam o lugar dos seus amos e vice-versa. Os gregos da antiguidade celebravam um festival com características semelhantes aos Zagmuk/Sacaea para auxiliar o deus Kronos na sua batalha contra Zeus e os Titãs.

 
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